Sam Rodrigues: É possível escolher "apaixonar" ou "deixar pra lá"?


Eu sempre achei que existisse um ponto em que desse pra escolher: se apaixonar ou deixar pra lá. Mas na prática, se existe ninguém o identifica. Você capta um olhar de longe, aquela pessoa te olha exatamente como você sempre quis ser vista. Um dia então vocês conversam e não da para evitar, a conversa flui como se vocês fossem amigos de infância. Não da vontade de sair dali, de desgrudar os olhos e ouvidos da pessoa. Mas vocês tem que ir embora. Então você vai e se pega várias vezes pensando na pessoa. Você não consegue esquecer o olhar, a voz, o sorriso, o jeito. Eu acreditava até então que era tudo hormonal, mas não sei, não sei até que ponto o fisiológico pode explicar algo tão inexplicável. 

Os dias passam, vocês se veem mais uma ou duas vezes. A mesma coisa. O mesmo olhar, a mesma atenção mútua, aquele cheiro de vontade que fica no ar. Com os outros garotos você fica nervosa, mas com ele não. O coração acelera, mas quando ele chega perto, tudo fica calmo. Você só tem vontade de prolongar a conversa, essa sensação boa. Você se sente na casa da avó no domingo. Você se sente encima da sua laranjeira de estimação na infância. Você se sente mergulhando no mar gelado em um dia escaldante de quente. Você se sente gargalhando da piada mais engraçada do mundo. Você está apaixonada. 

Esse tipo de sentimento desgovernado não acontece todo dia ou todo mês. Ele acontece algumas vezes na vida. Ele acontece quando você menos espera, menos quer, menos deseja alguém. Ele vem quando você está calma pensando na vida ou quando você está passando por um turbilhão de coisas ao mesmo tempo. Ele raramente vem de uma forma fácil. Na maioria das vezes, para fazer dar certo, é preciso esforço, calma, paciência. É preciso querer de verdade! Não se pode necessitar, mas tem que querer muito! E quem sabe, se você tiver sorte ele seja recíproco, duradouro e feliz.