Solidão, sexo e amor na visão budista, por Iara Fonseca


A solidão é um estado de espírito negativo. Você fica sentindo que seria melhor se o outro estivesse ali – seu amigo, sua esposa, sua mãe, a pessoa amada, seu marido. Seria bom se o outro estivesse ali, mas ele não está.  Solidão é ausência do outro.
 
Está se sentindo sozinha ou sozinho?

Não sinto a solidão, pois não estou sentindo a falta de ninguém. Estou só comigo mesma. Estar só com você é a presença de si mesmo.
O estar sozinho é muito positivo. É uma presença, uma presença transbordante. Você se sente tão pleno de presença que pode preencher o universo inteiro com a sua presença, e não há nenhuma necessidade de ninguém.
Quando não existe "alguém significativo" em nossa vida, podemos tanto nos sentir solitários, quanto desfrutar da liberdade que a solidão traz. 
Quando não encontramos apoio entre os outros para as nossas aflições, sentimo-nos isolados e amargurados, ou então, podemos celebrar o fato de que o nosso modo de ver as coisas é seguro o bastante, até para sobreviver à poderosa necessidade humana de aprovação dos outros.
Buda dizia que cada um de nós deve desenvolver em si a capacidade de abrir o seu próprio caminho através da escuridão, sem quaisquer companheiros, mapas ou guias. Devemos ser a luz de nós mesmos.

Você não sente falta de sexo? Sabe, carne com carne, beijo, gozo…
Bem, ainda pouca gente sabe o que é o amor. Noventa e nove por cento das pessoas, infelizmente, pensam que sexualidade é amor – não é. A sexualidade é por demais animal; certamente, ela contém o potencial para transformar-se em amor, mas ainda não é amor, apenas potencial… Se você se tornar consciente, alerta e meditativo, então o sexo poderá ser transformado em amor. E se a sua atitude meditativa tornar-se total e absoluta, o amor poderá ser transformado em compaixão. O sexo é a semente, o amor é a flor, compaixão, meus amigos… É o perfume… E que delícia de perfume! Se amor é compaixão, como faço para sentir essa compaixão? 

Às vezes acha que o seu relacionamento é apenas conveniente para você, pois está acostumada a ele?
 
Quando me refiro ao sexo desta maneira, fica até envergonhada? Acho, então, que jamais fez amor de verdade. Sente prazer, muito, mas não sabe como é o estado real. 
Sempre acaba e ainda está com vontade? Houve um tempo em que achou que o problema estava com você? Nunca fica satisfeita?
É porque ainda não existe compaixão. Buda definiu a compaixão como sendo "amor mais meditação". É quando o seu amor não é apenas um desejo pelo outro, quando não é apenas uma necessidade física. Quando o seu amor é um eterno compartilhar. Não está pedindo nada em troca, entende? Mas está pronto para dar apenas, – dar só pela total alegria de dar. 
Acrescente a meditação a ele, e o puro perfume será exalado. Isso é compaixão; compaixão é o fenômeno mais elevado. 

Na verdade, o maior "problema" do amor sexual é que ele nunca perdura. Só quando aceitamos tal fato é que podemos celebrá-lo pelo que ele realmente é – dar as boas-vindas a seu aparecimento, e dizer adeus com gratidão quando ele se vai – Porque uma hora ele acaba indo.
Então, à medida que vamos amadurecendo, conseguimos vivenciar o amor que existe além da sexualidade, e que honra a individualidade singular do outro. Começamos a compreender que o nosso parceiro funciona freqüentemente como um espelho, refletindo aspectos desconhecidos do nosso ser. 
Esse amor é baseado na liberdade, não em expectativas, muito menos na sua necessidade pessoal. 
Em suas asas, somos levados, cada vez mais alto em direção ao amor universal, que vivencia tudo como uma coisa só.