Paula Wenke: Piano em Caldas

O pianista vem piano de lontano,
abre a tampa e rege provocando.
Faz concerto e desconserta
sua musa agora descoberta.

É a anarquia musical rogando alma.
Eu, destronada ofereço e bato palmas.
O artista me solfeja no pescoço,
resposta: eu o colcheio com as coxas.

REsultado:surge um SOL sustenido,
suspendido debaixo do umbigo.
MI toca, MI beija, MI tortura,
MI nota, MI clava, MI partitura.

Vem de LÁ, vem sem DÓ, vem, vem, vem
cheio de SI e me dedilha por aqui e por ali.

O metrônomo não mais alcança
o alegro nervoso dessa dança.

Não se sabe, nem mais quais
são os meus, ou os seus pedais.
Há muito já se foram pras cucuias
os esquerdos e os direitos autorais.

O coro come em agudos e graves,
a sinfonia improvisada que ele Faz.
O stacatto segue firme o seu compasso,
o volume aumenta e é só estardalhaço.

Mas no instante mágico da pausa tônica,
o músico em harmonia me mela o dia.
Em todos os cantos e contra-cantos
desse quarteto onde a gente jazz.

Silêncio, pausa, reverberação.
...
Eu, poetisa violada e feliz,
ainda semi-confusa, mas
jamais em ponto de fuga,
mesmo me sentindo bemol,
não dou a semínima!

Breve junto forças pro acorde:
recomeço então pelo refrão.

Toco o seu diapasão,
fico toda afinada,
e mais uma vez eu

peço bis,bis, bis, bis...