Milioli Neto: uma lenda do rádio de Santa Catarina

Quase as vésperas do primeiro título mundial do futebol brasileiro na Copa de 58, o rádio sul catarinense conhecia uma jovem voz que anos mais tarde se tornaria uma referência em SC.

Francisco Milioli Neto, juntamente com seu amigo Clésio Búrigo, participou de uma transmissão do estádio do Itaúna de Siderópolis, onde os donos da casa enfrentaram o Comerciário.

Antes de estrear no rádio, Milioli ganhou experiência em uma pequena sala de redação montada por seus amigos do colégio Lapagesse. Nesta saleta eles escreviam artigos sobre futebol para distribuir entre os colegas de aula.

Entre os parceiros da improvisada sala de reuniões, estavam João Mickles, Fúlvio Naspolini, Clésio Búrigo, João Sonego, entre outros que mais tarde também ganhariam seu merecido espaço no rádio local.

Assim, começava a ganhar forma um dos mais talentosos profissionais da época de ouro no rádio. Ao longo dos anos, Milioli começava a se especializar na editoria que o viria consagrar tempos mais tarde. A área esportiva era discorrida com tamanha facilidade pelo jovem talento que chamava atenção do já exigente público futebolístico da época.

"Nossa região até os dias atuais têm um relacionamento muito estreito com o mundo da bola. No final da década de 50, Criciúma era sede de times montados pelas mineradoras, como o Metropol, o Atlético Operário, o Próspera e o Itaúna, que apostavam no esporte para diversão de seus funcionários nos finais de semana, mas o que era para ser entretenimento virou rivalidade", falou.

Amado e odiado, Chico, como é conhecido por seus colegas de profissão, não têm medo de falar o que pensa e isso acabou dando credibilidade ao radialista que afirma ter tranqüilidade e consciência limpa para dizer tudo o que pensa. "Quando digo que falo tudo o que penso pode vir a mente das pessoas que sou irresponsável. Isso não é verdade. Falo tudo o que penso, mas sempre checo tudo que vou falar para não cometer injustiça com ninguém", disse o comentarista.

Quando lembra do rádio antigo, Milioli enfatiza que para se transmitir uma partida de futebol, trabalhava-se duas vezes mais do que nos dias de hoje. Emocionado, ele diz que eram tempos difíceis, porém foi o período que lhe deu toda a bagagem e experiência necessária para trabalhar até hoje. "Naquele tempo para se fazer um jogo em Joaçaba tinha que ir cinco dias antes, cortar eucaliptos para fazer antena e rezar para o áudio chegar na emissora. Hoje é tudo digitalizado", emendou.

Mário Lima, um dos grandes parceiros de Milioli no rádio, conta que toda jornada que eles faziam juntos era um aprendizado. Ele lembra de fatos que embasam seu depoimento: "Lembro da final da Copa do Brasil. Eu narrei e o Chico comentou aquele jogo pra rádio Eldorado. Ele estava muito nervoso pela importância que a partida tinha pra cidade, mesmo assim ele comentou com maestria e a frieza de um inglês. Nem parecia que era criciumense roxo", contou.

Homenageado recentemente com o título de comendador, concedido pela Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (ACAERT), pelos 50 anos de profissão, Milioli afirma que têm muito ainda para passar e principalmente aprender. "Você não pode se achar o maioral, todo dia eu aprendo com essa gurizada que trabalha comigo. No rádio se você não se atualizar, buscar aprendizado, vai ficar pra trás. Por isso todo dia vou pro ar com a dedicação de um iniciante", finalizou.


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Por: Bebel Vieira, ao Portal Satc