Posso confiar que sempre voltará? - Por Sam Rodrigues

Imagem Cleides Cully
Olhando dentro dos seus olhos infinitamente azuis, passando a mão na sua pele pálida, nos seus cabelos escuros e macios eu me esqueço de tudo o que preciso lhe dizer. Mas quando chego em casa começo a ser corroída por uma angustia horrível, todas as palavras que eu não falei escalando incansavelmente minha garganta e me sufocando. 

A angustia é como sentir uma coceira terrível, que só passa quando nos machucamos mais ainda. É um beco sem saída. Você vive me encurralando, botando contra a parede. E depois vai embora da forma mais leve possível, deixando todo o peso, cansaço, palavras abafadas, beijos roubados e muita vontade pra trás comigo. 

Se eu pudesse guardaria seus olhos em um potinho de vidro e botaria para iluminar meu quarto à noite. Se eu pudesse te roubaria para mim, te prenderia para sempre no meu coração. Mas te deixo ir, pra te deixar sempre vivo. Porque arrancar uma flor e leva-la embora faz com que ela morra, muito melhor é vez ou outra abrir as janelas e observa-la no jardim. 

Meu coração cansado te deixa ir, mais uma vez. Fico com medo de nunca mais vê-lo, mas que escolha tenho eu? Nosso tempo é tão curto e tão mágico. Odeio te sentir escorrer pelos dedos. Amo te ver chegar mais uma vez. Posso confiar que sempre voltará?